9 de março de 2015

Do litoral: Camarão na Moranga


Se tem uma coisa que meu pai é aficionado e, quando tem, ele come mais que o normal é camarão. Por conta dessa paixão, durante um bom tempo ensaiei preparar um camarão na moranga para fazer um agradinho. O problema, é que nada parecia colaborar com o plano. Um final de semana eu fiquei doente, no outro tive que trabalhar, e no seguinte meus pais foram viajar. Quando eu começava a pensar no prato, parecia que alguma força maligna fazia o plano ir ralo abaixo. Pois bem, decidi que isso iria que acabar. Sábado passado comprei uma moranga e, independente do que acontecesse, o prato iria sair na marra. E não é que saiu?


Pesquisando sobre possíveis receitas e preparos, acabei de me deparando com a história - ou lenda - que gira em torno do prato. Por algum motivo, sempre associei o camarão na moranga à culinária baiana. Sabe como é, na minha imaginação fértil o prato sempre foi um primo próximo do bobó perdão aos baianos que lerem o post. Bom, imaginem o susto que eu tomei quando descobri que a receita nasceu no litoral norte paulista, especificamente em Ubatuba! O prato é caiçara minha gente, ou melhor, ubatubense por natureza.

Há muitos anos atrás, a Ilha Anchieta abrigou um presídio em que a sua grande maioria era composta por presos políticos. Um dia receberam uma facção japonesa que, logo após se adaptarem ao novo local, começaram a exercer a prática da agricultura pelo terreno plantando legumes e verduras. Por conta das péssimas condições sanitárias, os japoneses adquiriram esquistossomose, mais conhecida como barriga d’água. Os médicos quiseram curar a doença com remédios, mas os presos se recusaram a seguir as ordens e passaram a tostar as sementes das abóboras e a utilizá-las como vermífugo.


A novidade chegou no continente e, os moradores que sofriam com a mesma doença, passaram a comprar morangas da ilha. Um belo dia, um dos barqueiros que fazia a travessia, perdeu uma moranga no mar. Sabendo que o legume era tido como raro, ficou desolado. A bendita - por sorte - reapareceu em terra firme quase uma semana depois. A mulher que encontrou o legume tratou de cozinhá-lo para oferecer aos pescadores que passavam pelo seu restaurante depois da pesca. Quando abriu a moranga cozida, percebeu que ela estava recheada com camarões sete barbas. Boa cozinheira, tratou de retirar as sementes e complementou o recheio com cebola, tomates e cheiro verde. Ali, na praia de Enseada, nasceu o famoso Camarão na Moranga. Se a história é verídica ou não, eu não faço a minima ideia. Comprei a lenda e já me sinto satisfeita por isso. Acho que saber esse tipo de curiosidade, só enriquece a experiência ainda mais.



Sobre a receita, o mais difícil de tudo foi ter coragem de levantar bem cedinho para ir comprar o bendito camarão fresco. Que me perdoem os adeptos ao camarão congelado, mas do meu ponto de vista nada se compara ao sabor e a textura do fresco. Se for para comprar congelado, melhor deixar para fazer outro dia! O preparo em si é bem fácil e o resultado delicioso. O único ponto é que demora um pouco por causa da cocção da moranga. Se você estiver com pressa, tenho duas dicas: ou deixe para quando estiver em um dia tranquilo, ou então comece a preparar bem cedo.


Separe uma bela moranga e vem comigo ver do estou falando!

Para 6 pessoas:
  • 1 moranga (a minha tinha aproximadamente 3kg)
  • 1,5 kg de camarão médio limpo (usei o cinza)
  • 8 camarões rosa limpos (opcional)
  • 2 dentes de alho
  • 2 tomates grandes
  • 1 cebola média
  • 250g de requeijão cremoso Catupiry
  • Q/N  de azeite
  • Q/N de óleo
  • Sal a gosto
  • Pimenta do reino a gosto

Pré-aqueça o forno à 180º.

Comece lavando em água corrente a moranga. Certifique-se de que ela está limpa e seque-a com um pano. Abra uma tampa com uma faca e retire toda a semente o bagaço da moranga. Feche a moranga com a tampa e embale-a com papel alumínio. Coloque no forno aquecido por aproximadamente 1h30. Como a temperatura varia muito de forno para forno, aconselho ir espetando o legumes até sentir que ele está cozido.




Enquanto isso, pique os tomates bem miudinhos e reserve. Em seguida, corte a cebola e reserve. Por último, amasse os dentes de alho e reserve.



Em uma panela, coloque um fio de óleo e refogue o alho e a cebola picada. Quando a cebola estiver ficando transparente, adicione o tomate e refogue junto. O importante é deixar o tomate quase desmanchando. Reserve.


Um pouco antes de retirar a moranga do forno, tempere os camarões LIMPOS (sem as duas tripas - uma do dorso e a outra localizada na "barriga") com um pouco de sal e pimenta do reino. Reserve.


Quando a moranga estiver no ponto, retire do forno e desembale o papel alumínio com cuidado. Retire a tampa e reserve. CUIDADO! Pode sair um vapor bem quente de dentro, então atenção nessa hora. Com uma concha, retire delicadamente a água que tiver se acumulado dentro da cavidade. Reserve que utilizaremos ela mais tarde. Com uma colher, retire aproximadamente uma xícara de chá da polpa da moranga. Reserve.


Na mesma panela, coloque um fio de azeite e refogue os camarões cinzas até eles ficarem rosados. Esse processo é rápido, algo em torno de 4 minutos. É importante que o camarão não passe do tempo para não ficar borrachudo. Reserve. Coloque um pouco mais de azeite e refogue os camarões rosa. Reserve separados dos cinzas.


Volte os tomates refogados para a panela e adicione o requeijão cremoso. Em fogo baixo, misture até ele dissolver completamente. Adicione a abóbora com uma concha da água reservada e misture. Em seguida, misture os camarões cinzas refogados. 




Com uma concha, preencha a moranga com o creme de camarões. Por último, posicione os camarões rosas por cima. do creme. Volte a moranga ao forno e, se quiser, ligue o grill por 10 minutos.



Dica: como acompanhamento, escolha arroz branco e batata palha (opcional). Eu coloquei Tabasco a parte e acho que fez uma bela diferença. Sirva com um vinho branco gelado.

Bon Appétit!

Bisous,

Mariana Muller

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