Se tem uma coisa que meu pai é aficionado e, quando tem,
ele come mais que o normal é camarão. Por conta dessa paixão,
durante um bom tempo ensaiei preparar um camarão na moranga para fazer um agradinho. O problema, é que nada parecia colaborar com o plano. Um
final de semana eu fiquei doente, no outro tive que trabalhar, e no seguinte meus
pais foram viajar. Quando eu começava a pensar no prato, parecia que alguma
força maligna fazia o plano ir ralo abaixo. Pois bem, decidi que isso iria que acabar. Sábado passado comprei uma
moranga e, independente do que acontecesse, o prato iria sair na marra.
E não é que saiu?
Pesquisando sobre possíveis receitas e preparos, acabei de
me deparando com a história - ou lenda - que gira em torno do prato. Por algum
motivo, sempre associei o camarão na moranga à culinária baiana. Sabe como é,
na minha imaginação fértil o prato sempre foi um primo próximo do bobó perdão aos baianos que
lerem o post. Bom, imaginem o susto que eu tomei quando descobri que a
receita nasceu no litoral norte paulista, especificamente em Ubatuba! O prato é
caiçara minha gente, ou melhor, ubatubense por natureza.
Há muitos anos atrás, a Ilha Anchieta abrigou um presídio em que
a sua grande maioria era composta por presos políticos. Um dia receberam uma
facção japonesa que, logo após se adaptarem ao novo local, começaram a exercer a
prática da agricultura pelo terreno plantando legumes e verduras. Por conta das
péssimas condições sanitárias, os japoneses adquiriram esquistossomose, mais conhecida como barriga d’água. Os médicos
quiseram curar a doença com remédios, mas os presos se recusaram a seguir as ordens e passaram a
tostar as sementes das abóboras e a utilizá-las como vermífugo.
A novidade chegou no continente e, os moradores que sofriam com a
mesma doença, passaram a comprar morangas da ilha. Um belo dia, um dos
barqueiros que fazia a travessia, perdeu uma moranga no mar. Sabendo que o
legume era tido como raro, ficou desolado. A bendita - por sorte - reapareceu
em terra firme quase uma semana depois. A mulher que encontrou o legume tratou
de cozinhá-lo para oferecer aos pescadores que passavam pelo seu restaurante depois da pesca.
Quando abriu a moranga cozida, percebeu que ela estava recheada com camarões
sete barbas. Boa cozinheira, tratou de retirar as sementes e complementou o recheio com cebola, tomates e cheiro verde. Ali, na praia de Enseada, nasceu o famoso
Camarão na Moranga. Se a história é verídica ou não, eu não faço a minima
ideia. Comprei a lenda e já me sinto satisfeita por isso. Acho que saber
esse tipo de curiosidade, só enriquece a experiência ainda mais.
Sobre a receita, o mais difícil de tudo foi ter coragem de
levantar bem cedinho para ir comprar o bendito camarão fresco. Que me perdoem
os adeptos ao camarão congelado, mas do meu ponto de vista nada se compara ao
sabor e a textura do fresco. Se for para comprar congelado, melhor deixar para
fazer outro dia! O preparo em si é bem fácil e o resultado delicioso. O único
ponto é que demora um pouco por causa da cocção da moranga. Se você estiver com
pressa, tenho duas dicas: ou deixe para quando estiver em um dia tranquilo, ou
então comece a preparar bem cedo.
Separe uma bela moranga e vem comigo ver do estou falando!
Para 6 pessoas:
- 1 moranga (a minha tinha aproximadamente 3kg)
- 1,5 kg de camarão médio limpo (usei o cinza)
- 8 camarões rosa limpos (opcional)
- 2 dentes de alho
- 2 tomates grandes
- 1 cebola média
- 250g de requeijão cremoso Catupiry
- Q/N de azeite
- Q/N de óleo
- Sal a gosto
- Pimenta do reino a gosto
Pré-aqueça o forno à 180º.
Comece lavando em água corrente a moranga. Certifique-se de
que ela está limpa e seque-a com um pano. Abra uma tampa com uma faca e retire
toda a semente o bagaço da moranga. Feche a moranga com a tampa e embale-a com
papel alumínio. Coloque no forno aquecido por aproximadamente 1h30. Como a
temperatura varia muito de forno para forno, aconselho ir espetando o legumes
até sentir que ele está cozido.
Enquanto isso, pique os tomates bem miudinhos e reserve. Em
seguida, corte a cebola e reserve. Por último, amasse os dentes de alho e
reserve.
Em uma panela, coloque um fio de óleo e refogue o alho e a
cebola picada. Quando a cebola estiver ficando transparente, adicione o tomate
e refogue junto. O importante é deixar o tomate quase desmanchando. Reserve.
Um pouco antes de retirar a moranga do forno, tempere os
camarões LIMPOS (sem as duas tripas - uma do dorso e a outra localizada na
"barriga") com um pouco de sal e pimenta do reino. Reserve.
Quando a moranga estiver no ponto, retire do forno e
desembale o papel alumínio com cuidado. Retire a tampa e reserve. CUIDADO! Pode
sair um vapor bem quente de dentro, então atenção nessa hora. Com uma concha,
retire delicadamente a água que tiver se acumulado dentro da cavidade. Reserve
que utilizaremos ela mais tarde. Com uma colher, retire aproximadamente uma
xícara de chá da polpa da moranga. Reserve.
Na mesma panela, coloque um fio de azeite e refogue os
camarões cinzas até eles ficarem rosados. Esse processo é rápido, algo em torno
de 4 minutos. É importante que o camarão não passe do tempo para não ficar
borrachudo. Reserve. Coloque um pouco mais de azeite e refogue os camarões
rosa. Reserve separados dos cinzas.
Volte os tomates refogados para a panela e adicione o
requeijão cremoso. Em fogo baixo, misture até ele dissolver completamente.
Adicione a abóbora com uma concha da água reservada e misture. Em seguida, misture os camarões cinzas refogados.
Com uma concha, preencha a moranga com o creme de camarões.
Por último, posicione os camarões rosas por cima. do creme. Volte a moranga ao
forno e, se quiser, ligue o grill por 10 minutos.
Dica: como acompanhamento, escolha arroz branco e batata palha
(opcional). Eu coloquei Tabasco a parte e acho que fez uma bela diferença.
Sirva com um vinho branco gelado.
Bon Appétit!
Bisous,
Mariana Muller
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