Já falei inúmeras vezes que as vezes o corpo, ou melhor, o estômago da gente pede uma comidinha
sem muitas invenções. Aquela comidinha de avó, com cara de dia a dia, gosto de casa e que
cumpre com excelência máxima o seu papel. Foi pensando no cotidiano agitado dos
trabalhadores, que eu trouxe uma receitinha daquelas. Com certeza você já pediu durante o seu mísero horário de almoço e nunca se arrependeu da escolha: Picadinho de Carne.
O picadinho surgiu no Rio de
Janeiro e, de lá, tratou de se espalhar pelas demais cozinhas cariocas e
paulistanas. O prato, por incrível que pareça, é símbolo da boemia carioca das
décadas de 50 e 60. Para alimentar os incansáveis festeiros que haviam saído de
casa apenas com o jantar no estômago, os bares da cidade passaram a preparar o
tal "picadinho da madrugada". Dizem que o sucesso foi tão grande, que
o Copacabana Palace no seu auge, também passou a prepará-lo para os seus
hóspedes. Foi a partir daí que o prato passou a fazer mais sucesso entre os
demais moradores da capital fluminense. Anos depois, quando virou uma prática o
trabalhador não voltar para a casa almoçar, pela sua facilidade, os
restaurantes incorporaram o prato no menu fixo da semana. Assim como o clássico
bife rolê de terça, o picadinho de carne tornou-se a estrela das
segundas-feiras.
Uma coisa é verdade: quando a
fome bate, não tem nada mais agradável do que uma comida simples e com jeito de
caseira. Adoro uma novidade ou uma mistura um pouco mais exótica, não vou mentir. No entanto,
devo confessar que tenho uma paixão devastadora por essa comidinha do dia
a dia. Quem me conhece e convive comigo, sabe bem que eu não abro mão de um bom PF.
É, pê-éfe mesmo, o famoso e incrível prato feito. Quando a fome bate pra
valer, eu me rendo sem nenhuma frescura e com o maior prazer as combinações
mais famosas dos tradicionais botecos paulistanos.
Claro que não é qualquer boteco,
afinal, qualidade é primordial para fazer do picadinho um Senhor Picadinho.
Quem me ensinou isso foi a minha avó paterna, que fazia um de tirar o chapéu. Ela
me ensinou que justamente por ser um prato simples, tudo tinha que brilhar e
compor por igual. Ou seja, todos os ingredientes são de extrema importância: o
corte da carne utilizado, a cor e a textura do caldo, o aroma exalado e os
acompanhamento eleitos.
O filé mignon é sempre o corte
mais indicado, mas você também pode usar alcatra (que foi o que eu fiz), coxão
mole ou coxão duro. Arroz branco e farofa são dois dos acompanhamentos
obrigatórios! Você pode complementar com um ovo (cozido com gema mole, poché ou
frito), banana à milanesa ou pastelzinho. O feijão, eu costumo dispensar porque
acho que ele não combina com o picadinho já caldoso. Lembre-se apenas de
balancear para não deixar o prato pesado demais. Por exemplo, se você quiser
banana frita ou pastel, não faça com o ovo frito. Quer ovo frito e banana de qualquer jeito? Experimente fazer um vinagrete com ela ao invés de fritá-la ou então uma farofa. Solte a criatividade que o seu picadinho irá brilhar!
Facas à mão, e vem comigo!
Picadinho para 6 pessoas:
- 1kg de alcatra
- 80g de bacon
- 2 tomates
- 1 cebola
- 2 dentes de alho
- 375ml de cerveja escura
- 1 xícara de chá de água
- 2 colheres de sopa de farinha
- 2 colheres de sopa de mostarda
- 1 colher de sopa de molho inglês
- 1 colher de sopa de manteiga
- 1 pimenta dedo de moça
- Sal a gosto
- Pimenta-do-reino a gosto
- Q/N de óleo
Limpe a alcatra retirando todos
os sebinhos, gordurinhas e nervos possíveis. Em seguida, se você tiver prática,
vá retalhando os pedaços com a faca diretamente da peça de carne. Caso não se
sinta confortável, você pode cortar bifes, fazer tiras e em seguida picar os
cubinhos.
Seque a carne já picada e aos
poucos, pressionando os pedaços sobre um papel toalha e reserve.
Descasque e pique os tomate em
cubinhos. Reserve.
Pique a cebola e o alho, ambos em
cubinhos e reserve. Retire as sementes da pimenta dedo de moça e também corte em
cubos.
Em seguida, pique o bacon de
forma grosseira e reserve.
Em uma panela bem quente, coloque
um fio de óleo e sele/doure ⅟3 da carne. Como nós vamos
cozinhar a carne em seguida, essa etapa é importante para manter os líquidos
dentro das pedaços. A "selagem" pode ser vista como um envelope
protetor que garantirá a suculência e a maciez da proteína. Faça isso mais duas
vezes, sempre colocando mais óleo a cada etapa e reserve.
Na mesma panela, adicione mais um
fio de óleo e doure o bacon em fogo médio.
Quando ele estiver dourado,
adicione a cebola. Quando a sua coloração mudar, adicione o alho e a pimenta
dedo de moça. Refogue mais 2 minutos.
Em seguida, adicione a carne reservada e o tomate, e
refogue até ele começar a amolecer.
Em seguida, coloque a cerveja
escura e a água.
Prepare a pasta de farinha com
manteiga para engrossar o caldo. Junte os dois ingredientes e misture até
formar um creme bem homogêneo. Adicione ao ensopado. Normalmente esse creme é
feito em uma panela separada para cozinhar a farinha, mas como a carne ainda
vai cozinhar mais um tempo, não há necessidade de colocar o creme já cozido. Acrescente também a mostarda e o molho inglês.
Deixei a carne cozinhar em fogo
médio com a tampa até o molho engrossar
e reduzir. Faça isso por 20 minutos. Caso a água seque rápido demais ou
o caldo engrosse muito, adicione um pouco mais de água.
Quando o picadinho estiver
pronto, acerte o sal e a pimenta do reino.
Bon Appétit!
Bisous,
Mariana Muller
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