"(...) mas no mesmo instante em que aquele gole, de envolta com as migalhas do bolo, tocou o meu paladar, estremeci, atento ao que se passava de extraordinário em mim. Invadira-me um prazer delicioso, isolado, sem noção da sua causa (...)
(...) de
súbito a lembrança apareceu. Aquele gosto era o do pedaço de madeleine que nos
domingos de manhã em Combray (pois nos domingos eu não saía antes da hora da
missa) minha tia Leôncia me oferecia, depois de o ter mergulhado no seu chá da
Índia ou de tília, quando ia cumprimentá-la em seu quarto."
Marcel Proust, "Em Busca do Tempo Perdido"
Ao abordar o tema da memória gustativa no clássico da literatura
"Em busca do tempo perdido", reza a lenda que Proust foi o
responsável por eternizar e internacionalizar os maravilhosos bolinhos chamados
de madeleines (madalenas). Ele narra que ao comer uma madeleine oferecida por
sua mãe após anos sem degustar uma, ele foi capaz de voltar no tempo e sentir
algumas sensações que até então estavam adormecidas. Por incrível que pareça, a
mim a "pequena conchinha de confeitaria,
tão gordamente sensual" de Proust, também tem o fascinante poder de
me teletransportar para o passado em uma única mordida.
Durante a minha infância e parte da minha adolescência, estudei em
meio à crianças brasileiras e francesas em um colégio bilíngue de São Paulo. Justamente
por ser uma escola francesa e seguir os moldes do ensino francês, toda e
qualquer criança que não fosse daquela nacionalidade, acabava sendo inserida na
cultura de alguma forma. Fosse por meio de leituras, pela própria língua
falada, pelos professores franceses e assim em diante.
A escola, nos tempos aureos na época do meu irmão mais velho e não
na minha, oferecia festas com certa regularidade, organizava muitos
bazares, festivais, campeonatos entre pais e alunos etc. Em um desses momentos,
lembro de ter me deparado e experimentado pela primeira vez aquele bolinho
chamado de madeleine. E desde aquele momento, sempre que surgia uma
oportunidade lá estava eu à caça delas. Anos depois, na minha primeira viagem a
Paris, pedi a minha mãe que fosse comigo atrás de uma madeleine "de
verdade". Não demorei a descobrir e entender que em cada esquina francesa é
possível degustar uma madeleine "verdadeira".
À base de farinha, manteiga,
ovos e raspas de limão e com o tradicional formato de concha, feitas aqui ou lá, o gosto continua tão
bom quanto tirando as que vendem no Pão de Açúcar. E o mais importante, me
traz sempre memórias reconfortantes.
Com chá, café, na hora do
lanche, no café da manhã. Qualquer hora é hora de madeleines, guardem isso!
Forminhas a postos, vem
comigo!
Para 20 madeleines:
- 100g de manteiga sem sal
- 2 ovos em temperatura ambiente
- 120g de açúcar
- 100g de farinha
- 1 colher de café de fermento químico
- Raspas de um limão siciliano (se não tiver, pode ser o tahiti)
Pré-aqueça o forno à 220º.
Em fogo médio, derreta a
manteiga em uma panela e desligue assim que ela dissolver completamente. Com
um pincel, aproveite para untar a forma das madeleines. Reserve.
Bata os ovos com o açúcar até
que a mistura esteja bem homogênea, clara e levemente "espumada".
Faça isso com um fouet para que entre bastante ar na mistura.
Aos poucos e sempre com a
ajuda de um fouet, peneire a farinha sobre a mistura de ovos com açúcar. Mexa
bem.
Quando a massa estiver lisa e
homogênea, acrescente aos poucos a manteiga previamente derretida. Pode parecer
demais, mas não é. Mexa delicadamente com o fouet e sem pressa. Depois, adicione as rapas de limão.
Com um colher de sopa ou de
sobremesa, preencha ⅔ de cada forminha previamente
untada (eu usei uma de silicone da Pavoni com 9 espaços). Coloque o molde de
silicone em uma forma de alumínio e leve ao forno.
Nos 5 primeiros minutos de
cozimento, deixe a massa à 220º. Passado esse tempo, abaixe a temperatura do
forno para 200º e deixe por mais 10 minutos. Dependendo do forno, ela poderá
ficar 15 minutos, ok? Preste atenção! Não deixe muito tempo para não
ressecá-las. Na dúvida, faça o teste do palito.
Retire do forno e deixe a
forma esfriar. Depois, é só desenformar (sempre com cuidado).
Dica: se você for
servir as madeleines ou madelenas, fica um charme polvilhar açúcar de
confeiteiro em cima.
Bon Appétit!
Bisous,
Mariana Muller
Nossa, que delícia, agora serei obrigada a adquirir as tais forminhas de madeleines, obrigada Mariana pela receita e por compartilhar um texto tão bonito
ResponderExcluirOi Flávia! Pode comprar que vale suuuuper a pena. Como a forminha é de silicone a madeleine não gruda e ainda por cima, é super fácil na hora de limpar. Obrigada pelo elogio, espero que os outros textos também estejam agradando!
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